quinta-feira, 6 de novembro de 2014

PORTELA (Memórias - 2005)

MEMÓRIAS DA PORTELA
 
Portelenses ilustres como, Hiram Araújo, Waldir 59 e Noca da Portela
 
 
Em 1935, a Portela foi campeã do primeiro desfile oficial do carnaval carioca. A escola de Monarco, Natal e Paulinho da Viola foi também a primeira a abusar das alegorias, a levar destaques nos carros alegóricos e a uniformizar a comissão de frente. 
 
"Se for falar da Portela, hoje não vou terminar". Não dá para imaginar o quanto estava correto este samba, e como essa escola veterana tem histórias!
 
A reunião foi no quintal de Tia Surica, cozinheira de mão cheia e dona de uma voz privilegiada no coro da velha guarda. 
 
A alegria e a simplicidade desses encontros escondem a verdadeira definição da Portela: é a nobreza do samba. A escola - que foi 21 vezes campeã do carnaval - possui até hoje uma linhagem de sambistas de fazer qualquer um ajoelhar em reverência. 
 
A começar pelo fundador: Paulo Benjamin de Oliveira, o Paulo da Portela, tornou as rodas de sambistas um lugar de honra, que podia ser freqüentado por todas as famílias. Assim nasceu a escola de samba. 
 
"Na oficialização do desfile, o Paulo fez em 1935 "Cidade Mulher", para agradecer às autoridades a oficialização dos desfiles das escolas de samba que eram vistas como marginais", conta Monarco, da velha guarda. 
 
É de Paulo o samba enredo do primeiro campeonato da Portela, no desfile oficial de 1935, sobre as belezas da Guanabara. 
 
"Cidade quem te fala é um sambista, anti-projeto de artista, seu grande admirador". 
 
Nos anos 40, a Portela recebeu a ilustre visita de Walt Disney. O rei dos desenhos animados descobria a sedução do samba.
 
Foi Paulo da Portela quem ensinou Jair do Cavaquinho a dançar o miudinho, o passo mais tradicional do samba. 
 
Dodô foi a primeira porta bandeira da escola. Ela se orgulha de ter recebido a bandeira das mãos do próprio Paulo. 
 
Já sob o comando do velho Natal, a Portela desfilou para a Duquesa de Kent. O samba que conta essa história é da autoria do mangueirense Cartola.
 
Mas sambas e bambas nunca faltaram à escola de Oswaldo Cruz. Além de Monarco, e Waldir 59, Candeia, Zé Ketti, tantos outros. 
 
Em 1964, a Portela foi campeã contando o casamento do imperador. Na Avenida, violinos acompanharam o samba. 
 
Em 1966, um jovem compositor chegou a Portela. A nobreza ganharia seu príncipe. Paulinho da Viola tinha 22 anos quando compôs um samba campeão, com 45 versos, difícil de cantar. Hoje nem ele consegue lembrar direito.
 
Surica saiu puxando o samba naquele ano. Toda a velha guarda lembra muito bem. 
 
Nos anos 70, a Portela produziu sambas memoráveis. Quem não se lembra do antológico "Ilu Ayê"? Em 1974, a homenagem a Pixinguinha ficou para a história. Naquele ano o carnavalesco Hiram Araújo não cumpriu uma obrigação.
 
"Um pai santo disse que eu tinha que tomar cachaça eu falei que cachaça eu não bebia, perguntei se não podia ser outra coisa, ele disse que não. Aí eu falei que não ia beber. Então ele disse para mim e para o Natal que a Portela ia ficar 30 anos sem ganhar um título", conta Hiram. 
 
Em 1995, um sambão de Noca da Portela ficou na memória, mas também não levou título. Este ano tem samba de Noca de novo.
 
Mas voltando ao passado, sabem aquele samba de Paulinho da Viola que emociona qualquer portelense? Nasceu de um fato real. Ainda menino, Paulinho viu a escola entrar na Avenida Rio Branco. O samba rompia a alvorada e conquistava o coração do sambista.


"Quando a Portela passou, eu estava em um lugar privilegiado, eu vi tudo iluminado. Tinha um conjunto de luzes. As pessoas passavam e gritavam 'já ganhou'", conta Paulinho da Viola: "Foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar".