domingo, 5 de novembro de 2017

Gisele (Porta-Bandeira)




Gisele, como foi seu começo de carreira?

Gisele: Comecei como passista no GRES Arrastão de Cascadura, e na mesma escola, mais à frente, fui porta-bandeira por sete anos.

E como a Portela entrou na sua vida?

Gisele: Nunca tinha pensado em ser Portela, mas, em 1985, houve um concurso para porta-bandeira na escola. Resolvi participar até porque meus pais eram sambistas da Portela. Fui finalista. Quando venci, os dirigentes anunciaram que a primeira porta-bandeira da escola era eu e não a segunda. Foi um choque. Fiquei feliz e com medo.

Como é a arte da porta-bandeira?

Gisele: Olha, eu aprendi cedo... minha mãe foi porta-bandeira da GRES Em Cima da Hora, em Cavalcanti, onde eu e meus irmãos nascemos. Depois, ela foi porta-bandeira e baiana da Portela. A escola ficava próxima de nossa casa... acho que o samba tem tudo a ver comigo... como poderia ser diferente?

Mas você teve sua mãe como referência?

Gisele: Para aprender, eu observei as grandes porta-bandeiras e peguei o jeito delas se apresentar, mas acrescentei meu estilo e jeito de ser.

Explique melhor, Gisele.

Gisele: A porta-bandeira não deve imitar as outras. Cada uma tem sua forma de dançar, bailar na Avenida... Tem que manter seu estilo. A dança mostra o que a pessoa é.

E como você desenvolveu esse estilo?

Gisele: Quando estava em casa, eu me olhava no espelho e ficava treinando novos passos. Tentava dar o máximo para a escola, para que ela sentisse minha dedicação... para a Portela sempre ter nota dez neste quesito de mestre-sala e porta-bandeira.

Pode falar um pouco quem é você?

Gisele: Sou filha do ferreiro Antônio Targino de Sá e da doméstica Antônia Maria Eleutério. Meus pais frequentaram a GRES Em Cima da Hora e GRES Portela. Eu entrei pela primeira vez numa quadra de uma escola de samba aos cinco anos levada pelos meus pais. Nunca mais quis sair dali. Era muita emoção para mim quando criança. Me sentia à vontade vendo aquilo tudo.

E como era a família de vocês?

Gisele: Normal. Tive quatro irmãos. Eu nasci em 9 de dezembro de 1957, em Cavalcanti, sou sagitariana. Muito nova, meus pais se mudaram para Cascadura, onde estou até hoje, com meu marido Carlinhos e meu filho de 14 anos.

O trabalho normal, sem samba?

Gisele: Fui bancária do Itaú, trabalhei nas Casas Pernambucanas, Embratel...

Quem você recorda como porta-bandeira hoje?

Gisele: A Dodô... ela já faleceu, né? Ela foi a primeira porta-bandeira da Portela, morava no morro da Providência, ali na Central do Brasil. Mas também tinha a Vilma, a Neide e outras.

Qual o papel da porta-bandeira no desfile?

Gisele: Desfilar com amor e carinho, executar bailados e rodopios com muita fé.

Que cuidados a porta-bandeira deve ter com o pavilhão da escola nas mãos dela?

Gisele: São vários. Por exemplo, não dobrar ele, permanecer esticadinho nas mãos dela. O mastro deve estar sempre ereto, ela segurando firme. Neste momento, a porta-bandeira deve ter postura, irradiar simpatia, sorrir, ser elegante...

Como era antigamente a atuação deste casal no desfile?

Gisele: Antigamente, o casal vinha na frente da bateria devido à sua importância para a escola. Depois, este local foi ocupado pela velha guarda, os baluartes da escola. Hoje, mudou completamente, são outras pessoas que ocupam a comissão de frente.

É verdade que você foi professora da porta-bandeira Selminha Sorriso da GRES Beija-Flor?

Gisele: Não é verdade, nunca fui professora dela, ela mesma é que se fez com seu esforço. Na verdade, somos amigas. Não sou a professora dela. Ela começou na GRES Império Serrano e depois foi para GRES Estácio. Em seguida, entrou na GRES Beija-Flor, onde se destacou. Ela é muito boa, sabe lidar muito com sua função.

Existe realmente a energia da águia da Portela na Avenida?

Gisele: Muita. A águia da Portela me dá muita emoção. Ficava arrepiada quando ela entrava na Avenida.


Obs:  Entrevista concedida a Carlos Nobre, do SZRD (Memórias de uma porta-bandeira).